Neuroterapia por Neurofeedback

O primeiro procedimento para se optar por uma neuroterapia por neurofeedback é uma avaliação minuciosa da atividade elétrica do cérebro. Isso é feito através da realização de um eletroencefalograma quantitativo (QEEG), que compara o funcionamento neuronal atual da pessoa, com um banco de dados normativo. Os resultados são apresentados sob a forma de um relatório, que conjuga dados eletrofisiológicos e clínicos, para emitir um conjunto de particularidades do funcionamento do cérebro da pessoa que podem estar relacionados com determinados sintomas e determinados comportamentos.


Figura 1 – Mapas cerebrais eletrofisiológicos


A Figura 1 mostra uma parte de um desses relatórios, onde se podem ver representadas as diferentes áreas cerebrais segundo uma escala cromática (o vermelho representa um excesso de atividade considerada desviante em relação a uma base normativa). A relação entre as alterações do funcionamento elétricos e a localização das áreas, define o tipo de sintoma ou de comportamento que a pessoa poderá exibir.

Após esta avaliação inicial, segue-se a tomada de decisão sobre a indicação da neuroterapia por neurofeedback. Uma vez tomada, vai-se aplicar uma técnica que emprega os princípios da aprendizagem, os novos conhecimentos sobre a neuroplasticidade do cérebro, os mecanismos de biofeedback e autorregulação e os recentes avanços na tecnologia informática e electrónica, para normalizar o funcionamento eletrofisiológico do cérebro. A capacidade do próprio cérebro para a neuroplasticidade permite que ele altere sua atividade elétrica e forme novos caminhos neuronais conducentes a um comportamento mais saudável. Para além desta análise dita espectral, também são analisadas as relações entre os diferentes ritmos do cérebro e a coerência da comunicação entre os diferentes locais no cérebro.

Depois das análises várias feitas no qEEG, são selecionadas as regiões que vão ser objeto de intervenção e os respetivos protocolos de treino. Passa-se, então, ao treino propriamente dito. Este consiste em aplicar uns elétrodos no couro cabeludo para extração de informação do cérebro e ligar estes elétrodos a um computador. Esse computador está, por sua vez, ligado a um televisor que está a emitir um conjunto de bolas em movimento. No computador é escrito um algoritmo que no essencial permite o seguinte: sempre que a informação que chega ao computador a partir do cérebro de uma pessoa, é avaliada a sua inclusão num limiar normativo. Quando isso acontece, sai um sinal para a televisão e as bolas ficam reduzidas apenas a uma e completamente parada no centro do ecrã. Ecrã que a pessoa está a ver e a receber a informação que dele chega (este é o feedback). Ou seja, o treino que a pessoa terá de fazer é tentar, com o seu pensamento, parar as bolas.


Figura 2 – Esquema da neuroterapia por neurofeedback


1. Captação da atividade elétrica de uma área definida do cérebro e envio para um computador; 2. Se o sinal recebido no computador corresponde aos valores normativos, sai um sinal para a televisão; 3- Sinal na televisão sem feedback (múltiplas bolas em movimento); 3ª – sinal na televisão com feedback (uma única bola parada); 4. Visionamento pelo sujeito do resultado da sua tarefa mental.

Quando isso acontece significa que o seu cérebro atingiu um estado de normalização, por muito curto que seja.

Apesar de o neurofeedback conseguir mudanças cerebrais para além daquelas conseguidas com psicoterapia, estimulação cognitiva e medicação, ele não consegue restaurar o funcionamento de áreas estruturalmente danificadas do cérebro. Mesmo assim, pode promover um melhor funcionamento de mecanismos vicariantes e, desse modo, ser eficaz em aumentar os seus efeitos positivos ou diminuir seus efeitos negativos no funcionamento emocional, comportamental ou cognitivo dessas pessoas.